Um estudo inédito realizado em nove países sul-americanos revela
que, entre 2000 e 2010, a Amazônia perdeu 240 mil quilômetros quadrados de
floresta, 3% de sua área total, o equivalente ao território da Grã-Bretanha.
Coordenado pela Rede
Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg), que congrega
11 ONGs e institutos de pesquisa regionais, o atlas "Amazônia Sob
Pressão" mediu, com base em imagens de satélite, o desmatamento entre 2000
e 2010 em todos os países que abrigam a floresta, além de mapear as principais
ameaças ao ambiente e à população local.
"É importante manter
em evidência uma visão geral sobre o que está acontecendo na Amazônia",
disse à BBC Brasil Beto
Ricardo, coordenador-geral do estudo e membro do ISA (Instituto
Socioambiental), uma das principais organizações ambientalistas do Brasil.
Ele explica que, embora
haja muitos estudos sobre o desmatamento na Amazônia brasileira, ainda não
haviam sido feitas avaliações que incorporassem as porções andina e guianense
da floresta. Para o Brasil, acrescenta Ricardo, trata-se de um estudo
especialmente importante porque boa parte das cabeceiras dos grandes rios
amazônicos que cortam o país está em nações vizinhas, sobretudo as andinas,
como Colômbia e Peru. "O que acontece lá nas nascentes afeta todo mundo
aqui rio abaixo", afirmou.
Segundo o levantamento,
entre 2000 e 2010, 80,4% do desmatamento da Amazônia ocorreu no Brasil, país
que abriga 58,1% da floresta. Dono da segunda maior porção de cobertura
florestal, com 13,1%, o Peru foi responsável por 6,2% do desmatamento no
período, seguido pela Colômbia, que possui 8% da floresta e desmatou 5%.
A pesquisa mostra, porém,
que o ritmo de desflorestamento no Brasil e na maioria dos países
sul-americanos tem se reduzido desde 2005. Na última semana, a ministra do Meio
Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou a menor taxa anual de destruição da
Amazônia no Brasil desde 1988. Na ocasião, ela afirmou que o país também deverá
cumprir a meta de baixar o desmatamento ao limite de 3.925 quilômetros
quadrados de floresta ao ano em 2020. Para Ricardo, mesmo que se atinja tal
objetivo, esses níveis de desmatamento "resultarão na morte lenta da
Amazônia".
O estudo revela ainda que,
apesar de ter caído em termos gerais, a taxa de desmatamento tem se mantido
estável no Peru e aumentado na Colômbia e na Guiana Francesa.
Estradas transnacionais
Embora aponte para uma redução nos índices de desmatamento, a pesquisa mostra
que, se todos os projetos de exploração econômica na região saírem do papel, a
Amazônia poderá perder até a metade de sua cobertura florestal.
O estudo considera como
principais pressões sofridas pela floresta as estradas, a exploração de
petróleo e gás, a mineração, hidrelétricas, focos de calor e o desmatamento. De
acordo com o estudo, a presença de estradas na Amazônia está associada à
exploração ilegal de madeira, ao avanço de atividades agropastoris e a grandes
projetos de infraestrutura e urbanização.
A Raisg diz que a pressão
exercida por estradas na Amazônia aumenta à medida que avança a IIRSA
(Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana),
empreendimento conjunto de governos da região. Parte das iniciativas busca
ligar áreas habitadas da Amazônia brasileira a portos no Pacífico, facilitando
o escoamento de produtos. A expansão da pecuária e da produção agrícola,
informa a Raisg, também está entre as maiores ameaças à floresta e a seus
habitantes.
No caso da Amazônia brasileira,
93% das terras exploradas pela agropecuária são ocupadas por fazendas de gado
com pastagens onde se cria, em média, 0,9 boi por hectare, quando técnicas
intensivas permitem elevar tal proporção a até 10 bois por hectare.
Petróleo e mineração
Outras atividades que ameaçam a floresta, segundo o estudo, são a exploração de
petróleo e gás e a mineração. Segundo a Raisg, entre os principais impactos
ligados à extração de petróleo estão a poluição da água e do ar, a contaminação
do solo e a destruição de ecossistemas naturais.
A organização avalia que
há 327 lotes com potencial de exploração de petróleo e gás em toda a floresta,
que ocupam 15% de sua área. Cerca de 80% dos lotes se encontram na Amazônia
Andina, onde vive metade dos 385 povos indígenas da região. No Brasil, os lotes
ocupam 3% da porção nacional da floresta.
O estudo aponta que, no
Acre, estão em curso estudos para a exploração de petróleo ou gás em áreas
próximas a nove territórios indígenas e seis unidades de conservação. Já uma
porção ainda maior da Amazônia - 21% - é considerada área de interesse para a
mineração. Em metade desse território, exploradores aguardam licença para
operar, enquanto em 30,8% das terras já existem trabalhos em curso.
A Raisg afirma ainda que,
no Brasil, dois fatores podem "incentivar" a mineração na Amazônia: a
eventual aprovação de um projeto de lei que autorizaria a exploração em terras
indígenas e a construção de hidrelétricas em rios da região.
As hidrelétricas, aliás,
são apontadas pelo estudo como outra grande ameaça à região. Segundo a
entidade, há em toda a Amazônia 171 hidrelétricas em operação ou em construção,
e 246 planejadas ou em estudo.
Panorama
Segundo a Raisg, a Amazônia é habitada por cerca de 33 milhões de pessoas,
espalhadas por 1.497 municípios. As maiores porções da floresta se encontram no
Brasil (58,1%), Peru (13,1%) e Colômbia (8%), seguidos por Venezuela (6,9%),
Bolívia (5,7%), Guiana (2,6%), Suriname (2,4%), Equador (1,7%) e Guiana
Francesa (1,5%).
A pesquisa estima que,
hoje, 45% da Amazônia é ocupada por terras indígenas (TI) ou áreas nacionais de
proteção (ANP). Nesses locais, a Raisg diz que os níveis de desmatamento e
outros impactos ambientais são expressivamente menores.
"Os resultados
apresentados sustentam o importante papel que as ANP e TI vêm cumprindo como
desaceleradores ou contentores dos processos de perda de floresta em cada país
e na Amazônia em conjunto".
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